terça-feira, 29 de abril de 2008

Alimento Político




Não me assusta a notícia que li na página dez do caderno 1 do jornal CINFORM, a 7 de abril: Médicos, dentistas, e servidores do Ipesaúde entram em greve.
Digo que não me assusta, pois já havia referido para meus colegas do curso de Medicina que no futuro próximo seriamos nós quem estariam fazendo as greves e por isso não deveríamos nos imaginar em posição privilegiada em relação aos outros trabalhadores. Fiz essa argumentação no meio de uma discussão sobre o capitalismo na comunidade da turma de Medicina no Orkut. Alguns de meus colegas insistiam em dizer que todos nós somos capitalistas, pois estamos vivendo num regime capitalista adaptados ao estilo de vida consumista e individualista. Me opus veementemente a essa argumentação. Nós não somos capitalistas. Nós, estudantes de Medicina, estudantes da UFS, trabalhadores da saúde, não somos capitalistas!
Vamos ao dicionário Houaiss. Capitalista: (1) indivíduo que possui capital e vive de sua renda, (2) sócio que é responsável pela parte financeira da organização de uma empresa, (3) quem é muito rico. Como se vê, não há referência alguma a "pessoa que vive no sistema capitalista". O capitalista, numa definição mais precisa, é o dono dos meios de produção, é o empregador, dono ou sócio de um estabelecimento comercial de alto porte, ou indústria, ou estabelecimento financeiro como um banco.
Em resumo: os estudantes de Medicina, e os médicos não são capitalistas! A maior prova é a greve dos médicos. Um capitalista não faz greve, ele não pode fazer greve, pois ele não é empregado de ninguém, se ele paralisa suas atividades o prejuízo imediato é apenas dele. E como sabemos, um empresário não gosta de ter seus lucros diminuídos.
Passada essa primeira etapa de definição dos termos do problema vamos à seguinte, ao problema em si.
Somos estudantes e trabalhadores. Vivemos no sistema capitalista, sobe os grilhões de sua ideologia individualista e consumista. Desorganizados não podemos nos proteger dos abusos dos capitalistas. É por isso que existem instituições de defesa do trabalhador, algumas independentes por definição, os sindicatos de trabalhadores; outras fundidas ao regime de governo, o sistema judiciário, por exemplo. É nesse contexto que se faz necessário a união dos trabalhadores em prol da garantia de seus direitos.
O problema é que a sindicalização se tornou um empecilho à união dos trabalhadores. Os sindicatos passaram a se preocupar somente com as dificuldades imediatas do grupo de trabalhadores o qual representa. Dessa forma cada sindicato faz sua reivindicação em separado, não há uma rede de informações e decisões interconectada com a finalidade de informar e coordenar ações conjuntas dos trabalhadores em prol de sues direitos conquistados e de suas reivindicações a conquistar. Ainda na página dez do caderno 1 do CINFORM havia a notícia de mais três categorias de servidores insatisfeitas com seus salários, duas já em greve, guardas municipais e carteiros. Mas não li nada que falasse em coordenação dessas categorias de trabalhadores.
É por isso que as greves não são coordenadas. Digo, não há greves gerais, as únicas que amedrontam os economistas e capitalistas. Nos voltemos para o caso dos médicos e trabalhadores da saúde. Reivindicam: equiparação salarial e um plano de carreira. A autoridade que pode avaliar e deferir estas reivindicações é o Governo do Estado, ou seja, Deda, aquele que diz que é "gente como agente". É uma reivindicação antiga, de 2006. E Deda, o Governo do Estado, enrolando, enrolando, e marca reunião, e não marca, e os médicos esperam e esperam. Perdem a paciência. Greve. Resultado: Deda, que não é gente como agente, que não visita regularmente o João Alves, que certamente se dirige aos melhores hospitais do Estado e do País, não será de modo algum prejudicado pela greve. E o povo, sempre o povo, paga o pato.
E como não bastasse temos uma pequenina epidemia de dengue que já infectou mais de mil pessoas no Estado e matou uma dezena. E Deda, que é "gente como agente", o que faz? E o prefeito Edvaldo Nogueira? E Lula?
Como vemos, todas as nossas insatisfações estão relacionadas com o poder público. Os sindicatos de servidores públicos, mais conscientes dos problemas de cada categoria, deveriam conscientizar cada eleitor, cada cidadão, de que os problemas na área de saúde, educação, lazer, transporte, alimentação, moradia, segurança, etc. têm uma causa comum: a corrupção de políticos e a omissão dos que se dizem "gente como agente", a sórdida e gananciosa parceria de dirigentes com os interesses privados dos capitalistas.
Uma greve isolada (sem um processo contínuo de campanha contra políticos omissos e corruptos, sem um processo continuo de autoconscientização e coordenação da classe trabalhadora, e de conscientização de eleitores e cidadãos) jamais logrará conquistar plenamente sua pauta de reivindicação.
Sou favorável às greves, são um mecanismo de pressão e de reivindicação, no entanto se se tornam um instrumento passivo, ou uma finalidade em si mesmas, elas são prejudiciais. Muito da opinião pública se faz pela imagem que o trabalhador passa no modo de proceder a greve, se a opinião pública não se faz solidária ao grevista, dificilmente o gestor público levará a sério o poder do sindicato. Deve ser revisto o papel das greves como instrumento efetivo de reivindicação.

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