terça-feira, 6 de maio de 2008

DESMISTIFICANDO A CIÊNCIA

“Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações” 2 Pedro 2:13.



Em nosso trabalho vamos desmistificar a ciência como um método infalível de descoberta e pesquisa da verdade. É notório que no discurso científico, principalmente no caso de alunos e professores universitários, está contido uma expressão subliminar de verdade incomparavelmente superior a qualquer outra forma do pensamento humano. Provavelmente isso se deve a uma influência ainda forte do Positivismo, mas não vamos tão longe em nossa análise. Nos limitaremos a descrever o fato, observando como o “discurso científico” é utilizado para validar certas formas de se pensar a realidade e simultaneamente deteriorar outras formas de pensamento.

Com a recente popularização de termos da ciência através dos poderosos meios de comunicação surgiu uma nova representação social da ciência, incluindo-se aí a comunidade científica. Disto resultou que o modo de pensar do cientista deixou de ser visto pela coletividade com desconfiança pueril e passou a ser observado como “o melhor e para muitos o único modo de se pensar a realidade”. É por isso que quando qualquer locutor (até mesmo um universitário num simples debate em sala de aula) quer demonstrar “a verdade” em seu discurso diz: “isto está provado cientificamente”, e ainda acentua a sonoridade da palavra “cientificamente”. Podemos observar esse comportamento mesmo em conversas mais informais entre alunos do ensino superior (falo isso porque vivo essa realidade).

Surge então um mito moderno da “verdade cientificamente comprovada”. Qualquer locutor fará seu discurso ter maior alcance se utilizar as palavras mágicas “isso foi concluído de uma pesquisa científica”. Daí as revistas, jornais, professores, alunos, publicitários, políticos vão se utilizar desse discurso de cientificidade. Mas deve ser notado que há (pode haver) nesses discursos estereotipados uma distorção da verdade produzida pelos métodos científicos. Como assim distorção? Podemos exemplificar a noção de evolução que nos é apresentada pela mídia de massa. Nessa noção distorcida o darwinismo é apresentado com pinceladas de lamarckismo, mas isso não é explicitado ao público, assim duas teorias contraditórias são indistintamente mescladas pelo discurso da mídia de massa. A finalidade é esconder que dentro da própria ciência há diferentes formas de se observar a realidade, ou seja, esconder as contradições nas teorias científicas. É de fato proteger e perpetuar a verdade científica.

Esse mesmo discurso estereotipado da evolução das espécies é utilizado por um grupo não pequeno de entidades (científicas ou não) e até mesmo particulares para deteriorar o conceito religioso da criação do universo. Propositalmente iniciamos nosso trabalho com uma citação bíblica. Citar a Bíblia é pecado gravíssimo no meio pretensamente científico, logo dizem os defensores da verdade científica “não discutimos questões religiosas”. Ou seja, “não estamos dispostos a refletir sobre nosso ponto de vista da verdade. É verdade e pronto”.

Vamos observar o “princípio da carruagem” de Michael Löwy, no qual se faz a crítica do materialismo histórico marxista partindo de seus próprios princípios, ou seja, vamos criticar a ciência partindo de seus próprios princípios [observe que citar um nome reconhecido empresta validade a esse texto]. Ao desmistificar certos preconceitos contidos numa sociedade qualquer, podemos destruir suas bases de coesão. Façamos então o “elogio da ignorância”. O filme “A vila”(The Village), dirigido por Night Shyamalan, demonstra essa situação, um vilarejo tranqüilo incrustado numa reserva florestal onde as pessoas vivem com medo de criaturas que nem se quer são nomeadas, o mito foi criado pelos fundadores do vilarejo para afastar de seus moradores a idéia de sair pela floresta, uma forma de os fundadores protegerem seus filhos do mundo civilizado e violento. A simples possibilidade de desmistificar esse mito constituía um risco iminente de desestabilização da comunidade. Os fundadores do vilarejo afirmam veementemente a existência desses “seres não mencionáveis”. É um exemplo imaginário, mas serve para ilustrar a importância de certos preconceitos dentro das sociedades. Se uma dada ciência social destrói tal preconceito, automaticamente ela afeta as relações pessoais a um nível imprevisível. Ou seja, a tradição deve ser sempre reinventada, pois ela constitui um mecanismo de defesa “instintivo” da estabilidade social. Para ilustrarmos com um exemplo real podemos citar o código mítico das comunidades indígenas que prevê o respeito e a preservação do meio ambiente.

Se continuássemos nossa análise pelo que foi exposto no parágrafo acima, nós nos desviaríamos do debate central. O que queremos demonstrar é: o conhecimento da verdade sob o ponto de vista científico nem sempre é necessário (às vezes é impossível como no caso da evolução) e pode muitas vezes gerar uma anarquia nas relações sociais, como também pode constituir uma mistificação da verdade cientificamente comprovada.

Eles se regalam nas suas próprias mistificações.

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