terça-feira, 6 de maio de 2008

NÃO VOS OUÇO PEDIR PERDÃO


“Partidários do liberalismo, arautos dos Estados Unidos, não ouvi a vossa voz elevar-se contra a destruição do Vietnã, o genocídio Indonésio, as atrocidades perpetradas em nome do liberalismo na América Latina, contra a ajuda Americana ao Golpe de Estado de Pinochet, um do mais sangrentos da História, a execução dos sindicalistas turcos; a vossa indignação era um pouco seletiva: Budapeste, mas não a Argélia; Praga, mas não Santiago; o Afeganistão, mas não Timor; não vos vi indignarem-se quando se matavam comunistas ou simplesmente aqueles que queriam dar o poder ao povo ou defender os pobres. Pela vossa cumplicidade ou pelo vosso silêncio, não vos ouço pedir perdão. (Maurice Cury em O Livro Negro do Capitalismo)”.

Em minhas conversas com amigos e colegas de faculdade vejo muito um tipo de discurso que se torna característico de pessoas aspirantes à burguesia. É um discurso deprimido e pessimista, às vezes niilista. É como se não houvesse forma de vencer o capitalismo, ou seja, é um discurso que defende o capitalismo como a única forma viável de organização econômica e social. Estas pessoas defendem a ordem capitalista ou porque se sentem beneficiadas por ela, ou porque não se sentem ameaçadas por ela. Em outras palavras: defendem o capitalismo porque não sentem na pele os seus efeitos monstruosos como fome, miséria e calamidade.

Alguns destes arautos do liberalismo econômico fazem a defesa do capitalismo com o argumento de que esta ordem é detentora da tecnologia, da ciência e dos elevados padrões de vida e para justificarem esta afirmação fazem o louvor de nações como os Estados Unidos. Tornam-se assim “Vendilhões da Pátria” (expressão que vi pela primeira vez no livro O Novo Projeto Histórico das Maiorias no qual o prof. Heinz Dieterich faz uma alusão das elites dos países subdesenvolvidos capitalistas com os vendilhões do templo da passagem bíblica dos evangelhos de João 2: 13-16, Lucas 19: 45-46, Marcos 11: 15-17 e Mateus 21: 12-13).

Segundo Melhem Adas (no livro A fome: crise ou escândalo?) as elites dos países subdesenvolvidos capitalistas foram implantadas pelas metrópoles européias durante o período de colonização e servem hoje ao neocolonialismo e ao neo-imperialismo das nações desenvolvidas capitalistas – EUA, Europa e Japão – ou seja, nossas antigas metrópoles. Essas elites, segundo Adas, praticam o colonialismo interno e se beneficiam da miséria e da fome de seus próprios compatriotas, são insensíveis aos problemas sociais (se contentam com o luxo que a vida capitalista lhes oferece sem se importar com a fome e a miséria de seus conterrâneos).

Essa elite econômica das nações subdesenvolvidas tem seus defensores dentro das universidades. São jovens muitas vezes oriundos da classe média, em outras palavras pobres, que fecham os olhos para as contradições do capitalismo. Eles se sentem ricos, mas não o são; se sentem europeus, mas não o são; se sentem brancos, mas não o são; se sentem livres, mas não o são. São aspirantes à burguesia, são escravos do consumismo. Mas já se sentem burgueses e já defendem a exploração do trabalho assalariado, ou seja, defendem a exploração da classe trabalhadora.

Esses jovens que desejam ser burguesia atacam ferozmente as idéias socialistas (ou qualquer outra que deseje o fim da ordem capitalista). O fazem difamando figuras com destaque político de luta pelo socialismo como Stalin, Fidel Castro, Che Guevara entre outros. Os países mais atacados pelos jovens defensores do capitalismo são: a antiga União Soviética de Stalin e Cuba de Fidel. Mas como disse Cury “vossa indignação era um pouco seletiva”. Eles se indignam com os erros dos socialistas, mas esquecem, ou fingem esquecer, as desgraças do capitalismo. Eles justificam um erro com outro erro. Em outras palavras: para eles somos todos “farinha do mesmo saco”. Defendem a fome e a miséria gerada pelo capitalismo, pois não querem perder as regalias da tecnologia e do consumismo norte-americano.

Os tais se sentem ofendidos com meus ataques a esta ordem econômica (falo agora de meus colegas de faculdade). Certa vez, na comunidade de Medicina do Orkut, eu estava a treinar meus ferozes ataques ao capitalismo, pois sou um socialista, quando fui surpreendido por um discurso grosseiro de defesa do capitalismo. Não pensei que estudantes supostamente esclarecidos tivessem a falsa-coragem de defender uma ordem econômica geradora da calamidade. Por motivos de tempo e espaço não contarei aqui os detalhes desta batalha, mas apresentarei um argumento de um dos arautos do capitalismo que muito me fez rir...

“Já que você não confia no que os sites dizem, Jocsã. Aí vai: um conhecido meu foi para Cuba e em uma das noitadas transou com uma prostituta. Essa prostituta era médica. Tem fotos ele com ela pelas ruas de Cuba e até no Hospital de lá. Ela toda de branco e tudo.
Pô deve ser muito bom, ralar pra caralho e ter de se submeter a isso. É fato, Jokinha.”

Fiquei surpreso com o depoimento de meu colega. Ele foi enfático: em Cuba as prostitutas são médicas! Fiquei rindo da ingenuidade dele de me fazer esta revelação achando que isso me faria mudar de opinião com relação ao socialismo e a Cuba. Vejam então, leitores, como defendem o capitalismo esses jovens que aspiram à burguesia. Como são seletivos em seus ataques. Atacam Cuba dizendo que Fidel permite que uma médica seja prostituta, mas esquecem que no Brasil as prostitutas além de serem maltratadas ainda são muitas vezes menores de idade alienadas da situação econômica que as relegou a este mundo da exploração sexual. Vejamos que em Cuba a educação estatal é tão mais eficaz que a brasileira que até as prostituas (digo “até” porque é com esse preconceito que se trata estes seres humanos) são universitárias, são médicas!

São hipócritas os defensores do capitalismo. Eles silenciam-se diante da calamidade capitalista e abrem bem a boca para atacar nações que desejam libertação desta terrível ordem econômica. Se tornam cúmplices e igualmente culpados das barbáries capitalistas, ainda que de fato estes defensores do capitalismo não sejam burgueses, pois o burguês é o dono dos meios de produção como afirma Karl Marx, ou seja, o burguês é o empregador. Um simples empregado, por mais que seja privilegiado, jamais será burguês.

É por isso que repito a frase de Cury: partidários do capitalismo, pela vossa cumplicidade ou pelo vosso silêncio, não vos ouço pedir perdão.

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